História da enfermagem
A história da enfermagem é uma jornada que remonta aos primórdios da humanidade, refletindo a evolução das práticas de cuidado e a valorização da saúde ao longo dos séculos. Desde os tempos mais antigos, o ato de cuidar dos doentes, feridos e vulneráveis esteve presente em todas as culturas, muitas vezes associado a práticas religiosas, curativas e empíricas. No entanto, foi apenas no século XIX, com o trabalho pioneiro de Florence Nightingale, que a enfermagem começou a se consolidar como uma profissão organizada, baseada em conhecimentos científicos e princípios éticos.
O conhecimento da história da enfermagem é importante para que o enfermeiro possa compreender melhor a origem da sua profissão, bem como os desafios e conquistas nos caminhos percorridos até os dias atuais. Isso fortalece a identidade profissional, serve como alicerce para o aprimoramento contínuo da profissão, conectando o passado ao presente e orientando o futuro.
Quem é Florence Nightingale?
Antes de Florence Nightingale a enfermagem era uma atividade, desvalorizada, desorganizada, sem base científica, baseada no curandeirismo, na prática leiga, comandados pela Igreja Católica e exercida principalmente por pessoas sem formação adequada, muitas vezes em condições precárias e sem higiene.
A enfermagem atual surgiu a partir das bases científicas propostas por Florence Nightingale, no século XIX, dando visibilidade e tornando a enfermagem uma ciência, sendo ela responsável pela criação de um sistema de ensino voltado para o cuidado.
Florence Nightingale nasceu em Florença – atual Itália – em 12 de maio de 1820 e, desde a mais tenra infância, manifestou desejo de cuidar de pessoas e animais, Florence viveu junto a uma sociedade aristocrática, estudando diversos idiomas, literatura, filosofia, religião, ciências e matemática.

Em 1951, realizou estágio durante 3 (três) meses no Instituto de Diaconisas de Kaiserswerth/Alemanha (irmãs de caridade), onde aprendeu os primeiros passos da disciplina na enfermagem como regras e horários rígidos, religiosidade e divisão do ensino por classes sociais. Florence Nightingale é considerada a fundadora da enfermagem moderna em todo o mundo e ficou conhecida a partir de sua participação como voluntária na Guerra da Crimeia, em 1854, quando junto a outras 38 mulheres organizou um hospital com 4.000 soldados internos, baixando a mortalidade local de 42% para 2%.
Ela implementou práticas de higiene e controle de infecção, melhorou as condições sanitárias do hospital, tais como: limpeza, ventilação adequada, alimentação e saúde mental dos soldados. Por sua dedicação, passou a ser conhecida como – A Dama com a Lamparina – por conta das rondas noturnas que fazia nos leitos dos soldados feridos, em momentos em que todos os demais médicos e cuidadores estavam dormindo.
Após seu retorno da Guerra da Crimeia, Florence Nightingale foi reconhecida por seus esforços, e recebeu doações de toda a Grã-Bretanha, que atingiram o impressionante vulto de £45.000,00 (quarenta e cinco mil libras esterlinas). Essa quantia é equivalente a mais de dez milhões de reais nos dias de hoje. Com os recursos foi fundada a primeira escola de enfermagem no Hospital Saint Thomas – Londres, em 24 de junho de 1860. O desejo de Florence era reformar a enfermagem e criar escolas em todo mundo. Florence Nightingale faleceu em 13 de agosto de 1910 em Londres – Inglaterra – aos 90 anos.
Em seu primeiro livro, chamado: Notas sobre Enfermagem: o que é e o que não é, Florence Nightingale descreveu 13 (treze) fundamentos para o cuidado: arejamento e aquecimento; condições sanitárias das moradias; controle das atividades menores; ruídos; variedade; alimentação; que tipo de alimento; cama e roupas de cama; iluminação; limpeza de quartos e paredes; higiene pessoal; esperanças e conselhos; e observação do doente.
Enfermagem no Brasil
No Brasil, o que se sabe da história do cuidado é que, em 1890, foi criado o decreto federal 791 pelo presidente Marechal Deodoro da Fonseca, que autorizava a criação da primeira escola profissional de enfermeiros e enfermeiras chamada Escola de Enfermagem Alfredo Pinto, no Rio de Janeiro.
Em 1923, com a criação da Escola de Enfermagem Anna Nery, criada pelo Decreto n0 16.300 de 31 de dezembro de 1923, do departamento nacional de saúde pública, teve início uma enfermagem com enfoque no controle das epidemias e das endemias, pois o Brasil estava ameaçado, em relação ao comércio internacional, devido aos problemas de saúde pública que vinha vivendo. Um exemplo da importância desse controle para o comércio pode ser visto em jornais e telejornais que noticiam o embargo à exportação brasileira por risco de contaminação da carne bovina ou suína. Isso, com certeza, gera prejuízo financeiro e perda de prestígio ao mercado brasileiro.
Em 1949, foi criada a lei 775 que dispõe sobre o ensino de enfermagem no Brasil, esta lei compreende o curso de enfermagem com duração de 36 meses e o curso de auxiliar de enfermagem com duração de 18 meses. O primeiro passo para o surgimento da enfermagem profissional no Brasil ocorreu em 1830 com o curso de parteiras, ministrado na escola de medicina da Bahia.
Em 1986, foi aprovada a lei do exercício profissional de enfermagem, lei 7.498, que dispõe sobre a regulamentação do exercício da enfermagem e dá outras providências. Outro marco importante na história do cuidado de enfermagem no Brasil ocorreu em 1988, com a criação do Sistema Único de Saúde (SUS). Com ele houve uma ampliação do modelo de assistência, passando para uma visão sistêmica da saúde, cujo principal objetivo era potencializar o estado de saúde e deixar as intervenções (hospitalização) apenas em situações de desvio (doença). Essas mudanças permitiram a ampliação do foco de atenção dos enfermeiros, que deixaram de controlar epidemias e endemias para investir na promoção da saúde dos indivíduos.
Anna Justina Ferreira Nery
A enfermagem toma novos ares com Anna Justina Ferreira Nery, uma baiana que nasceu em 13 de dezembro de 1814, na cidade de Cachoeira-BA, casou-se com Isidoro Antônio Nery, do qual ficou viúva aos 29 anos, sendo mãe de três filhos que eram médicos do Exército, e ao irromper a Guerra do Paraguai, em dezembro de 1864, seguiram ambos para o campo de luta.
Anna requereu que lhe fosse facultado acompanhar os filhos durante os combates, deferido o pedido, Anna Nery partiu de Salvador, incorporada ao décimo batalhão de voluntários em agosto de 1865, na qualidade de enfermeira. Ao regressar ao Brasil, foi reconhecida por seus esforços com diversas honrarias militares, e ainda o Imperador Dom Pedro II concedeu-lhe uma pensão anual e a condecorou com a medalha humanitária.

Pela sua dedicação, ela é uma personagem significativa na história da enfermagem brasileira, sendo fonte de inspiração para diversos profissionais, o que motivou o nome da primeira escola de enfermagem do Brasil criada em 1923 pelo decreto 16.300. Anna Justina Ferreira Nery faleceu no Rio de Janeiro, aos 66 anos de idade, em 20 de maio de 1880.
Marie Josephine Mathilde Durocher
Marie Josephine Mathilde Durocher (1809-1893) – Madame Durocher – foi uma parteira francesa que se destacou no Brasil no século XIX, sendo considerada a primeira parteira diplomada a atuar no país. Ela desempenhou um papel importante na assistência ao parto e na saúde das mulheres, contribuindo para a melhoria das práticas obstétricas na época.
Marie Josephine Mathilde Durocher foi a mais célebre parteira do Rio de Janeiro, no século XIX, sendo a primeira mulher a ser recebida, como membro titular, na Academia Imperial de medicina, em 1871.
Legado de Marie Josephine Mathilde Durocher
O trabalho pioneiro de Marie Josephine Mathilde Durocher abriu caminho para a profissionalização da obstetrícia no Brasil. Ela introduziu técnicas e conhecimentos científicos na assistência ao parto, melhorando a segurança e o cuidado das gestantes; combatendo práticas tradicionais e muitas vezes perigosas, que eram comuns na época e inspirou outras mulheres a seguir carreira na área da saúde, especialmente na obstetrícia.
Edith Magalhães Fraenkel
Edith de Magalhães Fraenkel (1889-1969) foi uma figura importante na história da enfermagem no Brasil, reconhecida por suas contribuições para a organização e profissionalização da enfermagem no país. Ela desempenhou um papel fundamental na modernização do ensino e da prática da enfermagem, seguindo os princípios de Florence Nightingale.
Edith Magalhães cursou enfermagem na escola de enfermagem Anna Nery, sendo a primeira formanda em 1925, também foi a primeira docente de enfermagem brasileira. Em 1926, ela foi cofundadora da Associação Nacional de Enfermeiras Diplomadas (hoje Aben). Ajudou a criar a Escola de Enfermagem da USP e foi uma das precursoras da revista brasileira de enfermagem.
Legado de Edith Magalhães
Edith de Magalhães Fraenkel deixou um legado significativo para a enfermagem brasileira, contribuindo para a profissionalização e o reconhecimento da enfermagem como uma carreira essencial na área da saúde.
Ela atuou como líder e representante da enfermagem brasileira em eventos nacionais e internacionais; defendeu a formação de enfermeiras com base em padrões científicos e éticos; defendeu a valorização da profissão e a melhoria das condições de trabalho das enfermeiras; participou ativamente da criação e organização de escolas de enfermagem no Brasil.
Além disso, ela promoveu a inclusão de disciplinas como anatomia, fisiologia e microbiologia nos cursos de enfermagem e foi uma das fundadoras da ABEn em 1926, uma organização que promove a profissão de enfermagem e a educação continuada. Assim, com a sua dedicação à educação e à organização da profissão ajudou a estabelecer as bases para o sistema de enfermagem moderno no Brasil.
Hilda Anna Krisch
Hilda Anna Krisch (1900-1995) foi uma enfermeira e educadora brasileira que desempenhou um papel importante no desenvolvimento da enfermagem no Brasil, especialmente na área de educação e formação de profissionais de enfermagem. Ela contribuiu significativamente para a organização e modernização do ensino de enfermagem no país, seguindo os princípios estabelecidos por Florence Nightingale.
Ela cursou enfermagem no hospital samaritano nos EUA, em 1927, ao retornar ao Brasil, trabalhou na Escola de Enfermagem Anna Nery. Em 1959, foi pioneira no ensino de enfermagem, fomentando e colaborando para a criação da Escola de Auxiliares de Enfermagem Madre Benvenuta.
Legado de Hilda Anna Krisch
Hilda Anna Krisch deixou um legado duradouro para a enfermagem brasileira, contribuindo para a profissionalização e o reconhecimento da enfermagem como uma carreira essencial na área da saúde.
Assim como Edith de Magalhães Fraenkel, ela também atuou como líder e representante da enfermagem brasileira em eventos nacionais e internacionais; defendeu a formação de enfermeiras com base em padrões científicos e éticos; defendeu a valorização da profissão e a melhoria das condições de trabalho das enfermeiras; participou ativamente da criação e organização de escolas de enfermagem no Brasil.
Além disso, ela promoveu a inclusão de disciplinas como anatomia, fisiologia e microbiologia nos cursos de enfermagem e foi uma das fundadoras da ABEn em 1926, uma organização que promove a profissão de enfermagem e a educação continuada. Assim, com a sua dedicação à educação e à organização da profissão ajudou a estabelecer as bases para o sistema de enfermagem moderno no Brasil.
Wanda Cardoso Aguiar Horta
Wanda Cardoso de Aguiar nasceu em 11 de agosto de 1926, em Belém, Pará, formou-se enfermeira pela Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (USP) em 1948 e, em 1953, casou-se, passando a adotar o nome de Wanda de Aguiar Horta, como é conhecida até hoje.
Em 1953, foi licenciada em história natural pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade do Paraná. Em 1962, pós-graduou-se em pedagogia e didática e, em 1968, terminou o seu doutorado. Faleceu de esclerose múltipla em 1981, ano em que foi proclamada Professor Emérito pela Egrégia Congregação da Escola de Enfermagem da USP.
Teoria de Wanda Aguiar Horta
Para Wanda Aguiar Horta, enfermagem é a ciência e a arte de assistir o ser humano no atendimento de suas necessidades básicas, de torná-lo independente desta assistência através da educação; de recuperar, manter e promover sua saúde, contando para isso com a colaboração de outros grupos profissionais.
Wanda Aguiar Horta definiu a enfermagem como: Gente que cuida de gente – e para ela, ser gente era sentir-se responsável pelo destino da humanidade. Ela defendia que nenhuma ciência poderia sobreviver sem uma filosofia própria, o objeto da enfermagem, segundo a autora, é o ser humano, assistindo-o no atendimento de suas necessidades básicas.
Segundo Horta, a enfermagem, para ser eficiente e eficaz, necessita atuar dentro de um método científico de trabalho, chamado de processo de enfermagem – que é um conjunto de ações sistematizadas e inter-relacionadas, visando à assistência ao ser humano sendo constituído de 06 (seis) fases: histórico de enfermagem, diagnóstico de enfermagem, plano assistencial, plano de cuidados, evolução e prognóstico de enfermagem.
Assim, baseada nas necessidades psicobiológicas, psicossociais e psicoespirituais, Horta propõe uma metodologia científica para o processo de enfermagem, focando o ser humano como integral na busca do equilíbrio bio-psico-sócio-espiritual. A autora fez uso da teoria da motivação humana de Maslow, baseada nas necessidades humanas básicas (HORTA, 1979).
Referências Bibliográficas
AGUIAR, E. de. Conceito de enfermagem. Gazeta do Povo, Curitiba, 12 maio de 1951.
NIGHTINGALE, Florence. Notas sobre Enfermagem: O que é e o que não é. 2. ed. São Paulo: Editora Cortez, 2020.
BRASIL. Ministério da Saúde. Manual de Normas e Procedimentos para Vacinação. Brasília: Ministério da Saúde, 2019.
POTTER, Patricia A.; PERRY, Anne G.Fundamentos de Enfermagem. 9. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2018.
Juntos, podemos transformar a enfermagem e, com ela, o mundo!
A essência da enfermagem reside no cuidado integral, ético e humanizado ao ser humano, em todas as fases da vida, respeitando sua individualidade, dignidade e necessidades biopsicossociais, espirituais e culturais. A enfermagem é uma ciência e uma arte, fundamentada em princípios científicos, mas também profundamente alicerçada na empatia, escuta ativa, compaixão e compromisso com o outro.